Em tempos de ódio, as panelas
não serão minha arma. Porque, quando as pessoas protestam contra a reintegração
de posse e os donos do poder jogam a polícia em cima dos manifestantes, agindo
como segurança particular do grande empresário que não cuidou do seu
patrimônio, NINGUÉM bate panela nas sacadas.
Quando as pessoas não são
ouvidas pelo poder público, ao solicitarem a instalação de um semáforo naquele
trecho da estrada onde todos os dias alguém da comunidade é atropelado, e para
terem atenção, precisam queimar pneus no meio da pista, NINGUÉM bate panela nas
coberturas.
Quando moradores de rua são
mortos numa visível “limpeza social”, e a notícia é abafada e some num passe de
mágica, NINGUÉM bate panela nos apartamentos.
Quando a mulher sofre com o
número cada vez mais assustador de agressões e assassinatos e com a forte
exclusão por preconceito, NINGUÉM bate panela nas janelas.
Quando o poder público, em
parceria com empreiteiras, invade, destrói e desapropria lugares onde estavam
pessoas esquecidas por ele próprio, NINGUÉM bate panela do conforto do seu lar
em algum bairro rico.
Quando o negro sofre racismo,
desde olhares e baculejos à agressões e imposições de seu lugar na sociedade,
NINGUÉM (Lógico) bate panela nos condomínios de rico.
Quando a polícia e a imprensa
tratam suspeitos de acordo com sua conta bancária, NINGUÉM bate panela nas
mansões.
Em tempos de ódio, eu sei quem
levanta a bandeira de lutas com convicção. E eu sei quem não aceita o rumo
democrático de uma nação. Eu sei quem está se utilizando da liberdade da
democracia para pedir a mordaça da ditadura.
Em tempos de ódio, eu sei de
que lado estão os racistas, os fascistas, os homofóbicos, os machistas, os
xenófobos seletivos, os coronéis do latifúndio, os reacionários, os amantes do
nazismo, os defensores dos muros... Eu tenho lado! E NÃO é do lado deles. O
oportunismo e os tempos de ódio não mudam pessoas. Elas simplesmente mostram
quem são. Logicamente existem pessoas que são manipuladas a contribuir com o
ódio. Mas se elas não forem assim, logo acordam e se afastam.
Em tempos de ódio, a escória
se sente protegida e sai do subterrâneo. É assim que a KU KLUX KLAN faz
filiais.
Mas nem tudo é fatalismo! Em
tempos de ódio, eu olho ao meu redor e vejo que não estou sozinho. Vejo que
minha posição não é só minha. Em tempos de ódio, eu identifico quem enfrenta
racistas, fascistas, homofóbicos, machistas, xenófobos seletivos, coronéis do
latifúndio, reacionários, amantes do nazismo, defensores dos muros...
Eu sei quem apimentou o verde
e o amarelo com ódio. E eu sei quem (e porque) carrega o vermelho, não apenas
nas vestes, mas no sangue. Aliás, eu também sei quem (e porque) insiste em
querer mudar a cor do próprio sangue para azul, mesmo que só metaforicamente,
mas para ser diferente (em atos de segregação).
Em tempos de ódio, eu sei quem
tem bala na agulha e quem tem argumentos de verdade. Eu sei quem tem veneno e
quem tem propriedade. Eu sei quem discute sem profundidade e quem discute indo
buscar a raiz de tudo.
Eu sei quem me chama de
radical e ao mesmo tempo não aceita meus argumentos.
Em tempos de ódio, eu sei por
que uma única pessoa desperta a ira da escória, pelo simples fato de
posicionar-se contra o ódio.
Em tempos de ódio, uma imagem
vale muito mais do que todas as panelas do topo da pirâmide juntas.
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