Foto: Pierre Verger
Nesse universo de pernas e braços
disputando espaço com vento, poeiras e sons, eu me aventuro numa harmonia que
ninguém consegue decifrar: O que é que o frevo tem? Lá pelos idos do século 19,
lá estava ele exigindo atenção! Ele ordenava admiração! Nem nome tinha! E já mandava.
Lá estava ele tomando conta das ruas, dominando a alma do povo. Exigindo
sorrisos. Ecoando! Fazendo arte.
O que é que o Frevo tem?
Quando não tinha nome, o povo
chegava pro samba. O samba é nome dado à festa. Sempre foi! E os maestros
faziam as marchas. O mundo girando. E lá estava ele. Tão ousado, que fez do
sisudo e intocável dobrado, sua ponte para a farra. Desafiou os rigores
militares, contagiou os próprios músicos do dobrado e comandou a festa. Ele
disse: “Acelera, que estou chegando!”
O que é que o Frevo tem?
Eternizou os discriminados. Deu
aos rotulados “vândalos”, o status de donos da história. Deu ao povo, o título
de reis da pronúncia certa, quando ferver virou Frever. E o povo é quem manda! Fez
dos bonecos gigantes, seres com vida e alma de folião. Colocou as
instrumentações “sofisticadas” ao alcance do povão. Fez do estandarte, antes
tradicional nos cortejos religiosos, o abre-alas da folia.
O que é que o Frevo tem?
Quando ganhou nome, ele já
caminhava com desenvoltura. E seguiu caminhando, superando muitas pedras no meio
do caminho. Mudaram as dinâmicas, o rotularam de ultrapassado, fizeram do
carnaval popular, uma fonte de renda através de uma nova apartheid. O
escantearam, porque sabiam que ele não aceitaria tal covardia. Jogaram a
mentira de que ele já havia morrido. Que estava atrasado. Que estava
ultrapassado. E ele, só pra chatear, seguiu caminhando com malandragem. E virou
Patrimônio do Planeta.
O que é que o Frevo tem?
Ele faz a sombrinha equilibrar
passistas. Desafiou a lei da gravidade. Criou o povo com corpos de mola. Ele
criou sua linguagem: EVOÉ! Seus primeiros passos foram tão desafiadores, que
representaram as ferramentas dos trabalhadores. Ele fez as pessoas desafiarem
seus próprios limites. É mágico. É gigante. Nem é preciso buscar respostas. Não
dá pra saber o que é que o frevo tem. Só dá pra saber do que ele é capaz!
O Frevo é a própria inquietação.
É capaz de conquistar o mundo! Sempre!
Por André Agostinho
Por André Agostinho
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