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A Revolução Pernambucana

quarta-feira, 25 de julho de 2018

PESSOAS INCRÍVEIS - A FANTÁSTICA ZACIMBA













Zacimba Gaba era princesa da Nação Africana de Cabinda, em Angola. Capturada, foi trazida para o Brasil e escravizada no Espírito Santo por volta de 1690. 

Em tempo: Cabinda foi uma região quase que totalmente devastada ao longo de 200 anos, com seu povo sendo aprisionado e trazido principalmente para o Brasil para ser vendido no comércio escravo.

Zacimba foi comprada ainda no porto da Aldeia de São Matheus, junto com outros cerca de 12 negros e negras d'Angola. Foi arrematada pelo fazendeiro português José Trancoso, "dono" de uma centena de escravizados. Todos provavelmente d'Angola. Por isso reverenciavam Zacimba, o que despertou atenção do fazendeiro.

Certa noite, Trancoso mandou buscá-la. Queria saber se era verdade o boato de que ela era princesa na sua terra natal. Ao confessar que era verdade, Zacimba foi violentada e permaneceu confinada na casa grande. Sabendo que havia possibilidade de levante dos escravizados para libertá-la, o fazendeiro mandou um recado: Se algo acontecesse a ele ou a sua família, Zacimba seria morta. Ela se transformava em seu trunfo.

Os castigos e estupros (tanto por parte do fazendeiro como dos capatazes) foram constantes. para evitar que os seus sofressem danos maiores, Zacimba proibiu os negros de qualquer tentativa de libertá-la. 

As noites de lua cheia inspiravam a princesa, que entoava cânticos para os deuses africanos pedindo proteção, paciência e força para manter-se equilibrada e agir na hora certa.

E assim foi feito.

Na região, havia uma cobra muito temida pelo seu veneno mortal. Todos a chamavam de "preguiçosa". Os escravizados a capturavam viva, cortavam sua cabeça sem extrair o veneno, torravam e moíam, transformando-a em um pó fino. A intenção era misturar esse pó na comida da vítima. E tinha que ser em pequenas quantidades. 

Motivo: A vítima, logicamente, não poderia perceber que estava sendo envenenada. E caso desconfiasse que havia algo suspeito, mandava algum escravizado comer. E aí estava a grande estratégia: Ao experimentar a comida com pouca quantidade do que eles chamavam de "pó pra amansar sinhô", não havia riscos de envenenamento. o veneno em pouca quantidade na comida só fazia efeito se fosse ingerido de forma contínua. corriqueiramente.

O envenenamento era lento e a vítima não sentia sinais antecipados de forma suficiente para perceberem que estavam em perigo. Quando começavam os efeitos de fato, já não havia o que fazer. A hemorragia já demonstrava o tamanho do estrago: o sangue saía pelo couro cabeludo, pelas unhas, por ouvidos e nariz.

A paciência foi dada a Zacimba. E ela agiu lentamente... Esperando o momento certo. E o primeiro sinal de que o momento estava chegando, foi quando escutou-se de toda a propriedade da fazenda, os gritos de dor de Zé Trancoso. Familiares e feitores surpresos. Escravizados, já na espreita há um tempo, entusiasmados. Enquanto o fazendeiro era assistido, Zacimba mandava avisar aos escravizados que tivessem calma. Que ainda não era a hora.

O sinal foi dado quando o sangue começou a jorrar sem controle do corpo do carrasco. Sua morte já era um fato. A vingança estava posta. Comandados pela princesa, os escravizados invadiram a casa grande, cercaram os capatazes e mataram todos com fúria e sede de liberdade. Apenas a família de Zé Trancoso foi poupada.  

Logo em seguida o grupo embrenhou-se na mata, onde, às margens do riacho doce ergueram um Quilombo. 

Quando o episódio ocorreu, o gigante Quilombo dos Palmares já havia sido derrubado pelos opressores. O Quilombo erguido por Zacimba provavelmente também serviu de abrigo para muitos quilombolas que escapavam quando seus Quilombos eram destruídos, inclusive Palmarinos. 

E a luta seguiu. Conta a história que além de toda a segurança estratégica do Quilombo, um observatório foi construído em direção ao mar, para vigiar navios negreiros que se aproximavam do porto. Assim, o grupo liderado por Zacimba cercava o navio à noite, resgatava os prisioneiros e os levavam para o Quilombo. Tudo antes da embarcação chegar em terra firme. Esse detalhe dava vantagem aos quilombolas. Isso já era início do século 18. 

Os opressores não iriam deixar isso barato. 

Certa ocasião, os quilombolas avistaram dois navios negreiros em alto mar. Prepararam os barcos, esperaram anoitecer e, sob o comando de Zacimba, foram libertar outros irmãos. Se aproximaram silenciosamente. cercaram o primeiro navio. Metade subiu. Metade ficou nos barcos dando cobertura. 

Mas não havia prisioneiros. Era uma armadilha. O navio estava cheio de soldados prontos para matar aqueles que estavam "atrapalhando" o "comércio de escravos" na região. 

Foi um massacre. 

Os que ficaram nos barcos foram massacrados pelos soldados do segundo navio. Terminava ali, no mar, a luta de uma das mulheres mais fantásticas da história de resistência contra a escravidão. Sua paciência a libertou. Mas ela tinha pressa de libertar os irmãos. E foi surpreendida pelos opressores. 

O Quilombo resistiu por cerca de dez anos, sempre sob o comando da princesa guerreira Zacimba. 

O local onde ergueu-se o Quilombo é hoje o povoado da Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra, extremo norte do Espírito Santo.




***Agradecendo ao amigo Marcone Alves. Foi em uma de nossas conversas que ouvi dele como uma mulher escravizada envenenou lentamente seu opressor. Fui buscar a história. E não tinha como deixá-la guardada. Zacimba Gaba, Presente!















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