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A Revolução Pernambucana

domingo, 5 de agosto de 2012

MARGARIDA ALVES! MARGARIDA GUERREIRA!


















É com muito orgulho, que publicamos um pouco da história dessa MULHER AGUERRIDA. repleta de essências do bem. Lutadora. Com uma sede de justiça pouco vista. E que nos permite aprender cada vez mais com seus passos que ficaram eternizados. Margarida Alves. Margarida Guerreira.


Margarida Maria Alves nasceu em Alagoa Grande (PB), no dia 5 de agosto de 1933. A saga dessa sindicalista brasileira, enche de orgulho quem conhece sua determinação e luta. Durante o período em que esteve à frente do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, foi responsável por mais de cem ações na justiça do trabalho regional. Foi a primeira mulher a lutar pelos direitos trabalhistas no estado da Paraíba durante a ditadura militar.  

Margarida Alves era filha mais nova de uma família de nove irmãos. Esteve sempre à frente da luta pelos direitos básicos dos trabalhadores rurais em Alagoa Grande. Brigou muito por diretos como carteira de trabalho assinada e 13º salário, além de jornada de trabalho de oito horas e férias.

Nem é preciso dizer que sua atuação no sindicato incomodou muita gente "graúda". Ideias que entraram em choque com os interesses do proprietário da maior usina de açúcar local (Usina Tanques), de donos de engenho, e de fazendeiros não ligados à lavoura da cana. 

Sabedora do vespero em que estava se metendo, Margarida se guiava pelas suas convicções. Era uma idealista. Certa vez, disse: “Não sei quando irão me matar, não sei onde, sei que vão me matar; mas, enquanto eu estiver viva, eu lutarei pelos direitos dos trabalhadores." Essa consciência que ela tinha, poderia assustar qualquer um... Menos ela. Pois a mesma,  às vésperas de ser assassinada, recebeu um aviso de que sua vida estaria meaçada. E comentou: "Da luta, eu não fujo". 

É importante nos remetermos ao local e ao período para admirarmos ainda mais, a pujança e coragem de Margarida Alves. Afinal, ela permaneceu no cargo de presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande por 12 anos, apesar das constantes ameaças contra sua vida, onde a força repressiva e a escravidão eram, pasmem, comum (E ainda há esta lamentável realidade no nosso chão). 

E o mais importante de tudo isso, é que, mesmo no "antro" dos poderosos, perto deles, ameaçada por eles, nunca houve registro  na justiça, de perda de questões trabalhistas. Foram cerca de 73 reclamações contra engenhos e contra a Usina Tanques. 


























E sabe qual foi a mola propulsora da luta dessa guerreira? A EDUCAÇÃO! Margarida foi uma das fundadoras do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural. De lá, foi diretora de 1981 a 1983. Uma prova inconteste do seu esforço dentro  do contexto literal da "inclusão social". Inclusão, vista na prática, só é conquistada com conhecimento. E o foco era dar aos trabalhadores, o acesso a conhecimentos e direitos, além, evidentemente de aproximar ainda mais a ligação das pessoas à sua realidade: Assim, fortalecer a agricultura familiar era outra forte prioridade. Outra prática da sua gestão, era fortalecer a inclusão da muher na luta por melhores condições de vida no campo.

O fim, que mais uma vez envergonha a história do país com uma mancha de sangue e impunidade que segue ao longo da estrada, foi o assassinato de Margarida Alves. 12 de agosto de 1983. Ela estava na porta de sua casa, observando o filho, que brincava na rua. Logo, um elemento aproximou-se pelo lado da casa e ao chegar em frente à porta disparou uma espingarda calibre 12, carregada com chumbo grosso  e pregos enferrujados, contra sua cabeça. 

Como descrito na época, "Devido à violência do impacto, o umbral da porta e as paredes da casa ficaram salpicados de restos de cérebro, sangue e pele… O assassino retirou-se calmamente de encontro a dois outros que o aguardavam, demonstrando muita segurança na impunidade garantida pelos poderosos mandantes” (Centru, s/d).

Naquele ano, mais precisamente do dia 1º de maio, na cidade de Sapé, também na Paraíba, ela assim falou: 

Eles não querem que vocês venham à sede porque eles estão com medo, estão com medo da nossa organização, estão com medo da nossa união, porque eles sabem que podem cair oito ou dez pessoas, mas jamais cairão todos diante da luta por aquilo que é de direito devido ao trabalhador rural, que vive marginalizado debaixo dos pés deles”.

Ela estava certa. E o medo, aguçou a covardia deles. O medo sempre aguça os vilões. 

Foram acusados pelo crime o soldado da PM Betâneo Carneiro dos Santos, os irmãos pistoleiros Amauri José do Rego e Amaro José do Rego e Biu Genésio, motorista do Opala que serviu de arrimo para a fuga. Mais tarde, ele foi assassinado, como “queima de arquivo”. 

O crime comoveu a opinião pública local e estadual, assim como a opinião pública nacional e internacional, tendo repercutido em organismos políticos de defesa dos Direitos Humanos.



















Margarida recebeu postumamente, o Prêmio Pax Christi Internacional em 1988.


Mas a caminhada em direção à justiça, continua difícil no nosso país. Assim como esta notícia, em dois momentos, de dez anos atrás:

"CUT - Imprensa 17/05/2002

Margarida Alves

Novo julgamento

O latifundiário e médico José Buarque de Gusmão Neto, um dos acusados de ordenar o assassinato da líder rural Margarida Maria Alves vai a novo julgamento no dia 28 de maio. Zito Buarque, havia sido absolvido ano passado, mas a Justiça considerou que o resultado do julgamento era incompatível com as provas incluídas no processo. O crime ocorreu há 19 anos, na Paraíba, e até hoje nenhum dos assassinos foi punido.

CUT - Imprensa - 27/05/02 

Julgamento suspenso

O julgamento de um dos acusados de ordenar o assassinato da agricultora Margarida Maria Alves, que estava marcado para hoje, dia 28, está suspenso. O réu, José Buarque de Gusmão Neto, conhecido por Zito Buarque, latifundiário e médico, obteve liminar junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O ministro Gilson Dipp suspendeu o julgamento até a análise do mérito do pedido de habeas corpus. O crime ocorreu há 19 anos, na Paraíba, e até hoje nenhum dos assassinos foi punido. A Associação Nacional das Mulheres Trabalhadoras Rurais (ANMTR) encaminhou fax ao ministro da Justiça exigindo que o julgamento seja remarcado.
O proprietário da Usina Tanques era o líder do chamado "Grupo da Várzea", e o seu genro, então gerente da usina, foi acusado de ser o mandante do assassinato de Margarida Maria Alves."


Margarida é um exemplo a ser seguido no nosso cotidiano. Uma verdadeira heroína do povo. E isso incomoda muita gente. 

12 de agosto, é conhecido como o Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo e pela Reforma Agrária.

Como forma de protesto, entidades como a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura, Central Única dos Trabalhadores, Movimento dos Sem Terra, Comissão Pastoral da Terra, entre outras, organizam anualmente a Marcha das Margaridas, que acontece todo mês de agosto.





Texto: André Agostinho



Fontes de pesquisa e fragmentos para o texto:






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