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A Revolução Pernambucana

terça-feira, 24 de abril de 2012

11 DE SETEMBRO - QUANDO O TERROR FINANCIOU O GOLPE















Existe um país, onde o 11 de setembro não é um dia que trás boas recordações. O estopim que ocorreu por lá nesta data, marca , talvez, o pior momento da história da nação, e, com certeza, uma das ditaduras mais sangrentas da história do mundo.  E apenas nos últimos anos, esta ferida vem sendo “cicatrizada”. Ou pelo menos existem tentativas para isso, através de julgamentos e punições aos responsáveis pelo terror espalhado por quase 30 anos.

Estamos falando do CHILE.  O golpe militar no país, teve seu início, na prática, no dia 11 de setembro de 1973, numa estratégia covarde,  e a partir do golpe, muito sangue foi derramado.
Estima-se, que pelo menos 60 mil pessoas foram mortas ou desapareceram  no período. Cerca de 200 mil pessoas abandonaram o país, fugindo das perseguições do governo de  Pinochet.

O Chile estava em um processo de mudança e consolidação de suas estruturas sociais. Era um período em que ocorria, como diz o historiador Rainer Souza, da equipe Brasil Escola, “expressivo desenvolvimento econômico calcado na exportação de minérios e o desenvolvimento do parque industrial.”

Este processo despertou o interesse de outros países, e, entre eles, (principalmente) os EUA, com suas estratégias de soberania econômica e ao mesmo tempo, acompanhando a política interna chilena.







Queima de livros no período da ditadura









 
Na década de 1960, o Partido da Unidade Popular, casa de socialistas e comunistas,  tomou corpo,   e mobilizou-se em torno da campanha de Salvador Allende para presidente, que foi eleito de forma democrática.

O resultado incomodou os Norte-americanos, que sempre se colocaram como “donos” dos países latino-americanos. O incômodo aumentou, quando Salvador anunciou os primeiros passos do seu governo: A partir dali, o Chile teria uma política independente em relação aos Estados Unidos, além da nacionalização das empresas norte-americanas que tinham o domínio econômico do país.

Durante o governo, a primeira grande dificuldade econômica que Allende enfrentou, foi a crise internacional no mercado do cobre, na época, o eixo da economia chilena. Para o equilíbrio financeiro, os alimentos foram atingidos com aumento dos preços.

Como se estivessem esperando por aquele momento, os EUA e os conservadores chilenos investiram pesado na pressão sobre o governo, formando, simultaneamente, a estrutura de um golpe para derrubar os  socialistas do poder. Era assim que o governo Norte-Americano agia nos países que eles julgavam como “ameaça” aos seus domínios. Financiando ditaduras e impondo suas posições. Com o Chile não foi diferente. Pelo contrário. O massacre foi um dos piores já vistos.

No dia 11 de setembro de 1973, ocorria, na prática, o golpe militar chileno, numa parceria dos políticos conservadores e as forças armadas do Chile, com o governo dos EUA. A resistência dos  governistas não foi suficiente. 

Aviões rasantes, bombardeios, invasão dos militares em todos os locais, e o presidente Salvador Allende acabou cumprindo mais uma promessa: Ele disse que só entregaria o cargo, morto, porque foi o povo quem o colocou no poder e só o povo poderia tirá-lo. Então, quando um grupo de militares invadiu o palácio La moneda, onde estava o presidente, este suicidou-se. 

Naquele momento, Augusto Pinochet tomou posse do país, estabelecendo uma rígida ditadura militar, com a “benção” dos EUA.  Este apoio internacional, além de lhe acobertar, levaria de volta ao Chile, a soberania econômica Norte-Americana, que voltava a ditar as regras por lá. E, claro, o governo Estadunidense era novamente, o “padrinho” de uma ditadura.








Palácio La Moneda sendo bombardeado 












A dureza da ditadura no Chile, manchou o chão do país por muito tempo, com muitas histórias tristes. Um dos fatos lamentáveis foi a criação da DINA (Direção de Inteligência Nacional) pelo decreto lei N°521. Esta Direção ficou a cargo do tenente coronel de engenheiros Manuel Contreras. A DINA perseguia e prendia pessoasque julgasse ameaça.

Treinados pela Escola das Américas, os agentes da DINA iniciaram uma verdadeira carnificina, massacrando o GAP (Grupo de Amigos Pessoais de Allende) com sesenta mortos, além de matarem 400 militantes do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionario), outros 400 do Partido Socialista do Chile, e 350 militantes do Partido Comunista do Chile.

Em tempo: A Escola das Américas, agora chamada de Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança, é uma instituição mantida pelos EUA que ministra cursos sobre assuntos militares à oficiais de outros países. Entre 1946 a 1984, a escola esteve situada no Panamá. Este local também era chamado de Sua denominação inicial foi "Centro de Adestramento Latinoamericano - Divisão da Terra" . Inclusive, “coincidentemente” torturadores da ditadura brasileira, tiveram “aulas” de tortura, exatamente no Panamá.



O chamado Centro de adestramento Latinoamericano







Outra ação internacional em torno do regime ditatorial, era a OPERAÇÃO CONDOR, também conhecida como CARCARÁ. Era uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul - Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai. O objetivo era reprimir opositores dessas ditaduras e matar líderes de esquerda instalados nos seis países citados. Montada no início da década de 1960, a operação durou até meados da década de 1970. O nome condor, era uma alusão a ave de mesmo nome, típica dos Andes,  que se alimenta de carniça, como os urubus. Estima-se que a Operação Condor resultou em mais de 400 mil torturados e 100 mil assassinatos.

As pressões na década de 1980, deu novas esperanças ao povo chileno. Em 1988, um plebiscito previsto na Constituição negou a renovação do mandato de Pinochet. Em 1989, novas eleições presidenciais elegeram Patrício Aylwin Azocar, da frente política oposicionista, popularmente conhecida como “Concentración”. Só a partir daí, o Chile começou um processo de redemocratização, buscando denúncia e punição dos militares envolvidos com crimes políticos. O detalhe, é que Pinochet continuava no poder como chefe do Exército, cargo deixado em 1998, quando ele  assumiu o posto de senador vitalício.







Ditador Pinochet 







Sobre este momento,  focamos em mais um trecho do texto do historiador Rainer de Souza, para o site Brasil Escola:

“Naquele mesmo ano, em uma missão diplomática na Inglaterra, Augusto Pinochet teve sua prisão decretada pelo juiz espanhol Baltasar Garzón. O pedido foi acatado pelas autoridades britânicas, mas, quinze meses depois, a prisão do ex-ditador conseguiu ser burlada com um pedido de licença médica. Voltando ao Chile, um forte movimento se organizou em favor do julgamento dos crimes políticos atribuídos ao antigo representante da ditadura chilena.

No ano de 2002, as autoridades judiciais chilenas decidiram arquivar o processo contra Pinochet, alegando o avançado estado de suas debilidades físicas. Pouco tempo depois, o ex-general de 86 anos de idade renunciou a seu cargo saindo finalmente da vida pública. Em 2004, novas denúncias indicavam a existência de contas secretas multimilionárias onde o ex-ditador acumulava os recursos provenientes das nações que apoiaram o golpe e outras transações ilegais(...)”


Desde 1993 processado pela justiça após o fim da ditadura militar, com condenações anteriores que chegaram a sete anos de prisão domiciliar, Manuel Contreras, o temido chefe da DINA, foi condenado à prisão perpétua em junho de 2008 como mandante do assassinato do general Prats e sua esposa em Buenos Aires, em 1974.

Em 1  de setembro de 2009,  a justiça chilena expediu ordem de prisão a 120 militares e ex-agentes do serviço secreto chileno, por atentados contra os direitos humanos acontecidos no governo Pinochet, entre eles, Contreras, já preso, referente a casos de assassinatos e desaparecimentos de cidadãos chilenos e estrangeiros durante a Operador Condor.




Ilustração que mostra Países participantes da Operação Condor. Em verde: membros ativos (Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai). Em verde claro: membros esporádicos (Colombia, Peru, Venezuela). Em azul: EUA.








Mesmo com as ações que seguem julgando os ditadores pelas mortes naquele período sangrento que viveu, o Chile lamenta um detalhe: Não ter visto o ditador principal pagar pelos erros. No final de 2006, Pinochet morreu sem nunca ter sido, de fato, condenado pelos crimes que cometeu.

Dentro deste tema, cabe a reflexão:  A que lugar sua mente remete, quando escuta o termo “11 de setembro”? Porque a mídia não massifica as lembranças dolorosas de 1973, na mesma intensidade em que lembra do ocorrido em 2001?

O que aconteceu no Chile, iniciado exatamente no dia 11 de setembro, foi o reflexo de um sistema, onde um país queria (e continua querendo) soberania sobre vários outros.

O que dizer de um país que se sente ameaçado com o crescimento do outro? Que se acha dono de um continente?

Nada acontece por acaso.. Mesmo que seja por coincidência. O 11 de setembro, símbolo do início de um massacre financiado pelo poder Norte-Americano, acabou por ser um dos dias do medo dos próprios carrascos.

E por fim, uma pergunta que não quer calar:
Conhecendo a história verdadeira, a quem vamos atribuir o rótulo de TERRORISTA?


2 comentários:

Dayse Alves disse...

Não há como ler esse texto e não transpor as ideias, pensamentos, discussões... ao contexto que vivenciamos, observando as imposições acerca de um mascaramento do que de fato representou o 11 de setembro... Uma manipulação exacerbada que termina por gerar a construção de falsos e frágeis conceitos que conduziram a grande maioria das pessoas, a massa, a reproduzir os velhos hábitos de sempre acreditar no que está (im)posto e nunca a pensar no outro lado da história contada a partir do dominador e nunca do dominado... Esse texto estará comigo e será socializado com cada professor/a que fizer parte dos espaços educativos dos quais faço parte... Parabéns André Agostinho, você me deixa como sempre, sem as palavras...

Valter Santos disse...

texto muito bom assim como o comentário da Dayse. Assino embaixo.