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A Revolução Pernambucana

domingo, 5 de junho de 2011

SÃO JOÃO DE PERNAMBUCO

Acho que tudo tem seu nascedouro, embora todos acabem pertencendo ao mundo. É assim, principalmente com os artistas. Eu não sou um defensor de muros. Até porque, como já falei em outras oportunidades, defender muros, é bater de frente com a arte do Nordeste e sua relação com a sanfona, só pra citar um exemplo. Os muros não permitiriam que o instrumento conhecesse o forró e vice-versa. No entanto, se não cuidarmos do nascedouro com carinho, perdemos nosso ponto de partida. O que está acontecendo com a programação dos festejos juninos de Pernambuco, embora não seja novidade, é preocupante. Há dois anos atrás (em 2009), a prefeitura de Caruaru buscou o saudável e conseguiu, naquele ano, o que parecia utopia. Depois de tantos anos de desconstruções, os festejos juninos direcionavam para um sentido positivo e propositivo da identidade do nosso povo. Em festas temáticas, é essa a intenção: Mostrar o nascedouro!

Mas... No ano seguinte, mesmo com o sucesso da mudança, algumas imposições e pressões, devolveram à capital do forró, o pejorativo e as desconstruções. Outro detalhe: Eu sabia que seria difícil agüentar as pressões. Só não esperava que o poder público, depois de uma decisão tão nobre, cedesse tão facilmente. Enfim... Caruaru voltou a ser palco dos caprichos de terceiros, interessados em determinadas "atrações" em sua festa. O paradoxo(?) é que o status de CAPITAL DO FORRÓ não surgiu com as bandas de "fuleiragem", mas sim com um trabalho de grandes nomes de diferentes gerações que buscaram, pacientemente, evidenciar uma arte, que ao longo de muitos anos foi tão preconceituada (e ainda é), e chegou aos dias de hoje, sendo açoitada, mas mostrando força.

Não venho aqui falar de instrumentações, até porque, como me referi no início do texto, os muros não podem ser defendidos. O que falo é algo citado inclusive por Chico César, grande artista brasileiro, que está tentando segurar a onda na Paraíba, como secretário de cultura do seu estado. Ele fez referência à segregação que ocorre por lá ao longo de todo ano, por parte da mídia em torno dos artistas que defendem a bandeira do nascedouro, e que, no ciclo junino, que é o auge de muitos, eles são ceifados também dos palcos. Em Pernambuco, com toda a força de sua arte, é exatamente isso que acontece, e a cada ano, com muito mais força. Citei Caruaru por ser a referência, mas praticamente todas as cidades onde existem as festas juninas, o desfecho é o mesmo.

Ficar calado é aceitar que o nascedouro nem sequer sinta o prazer de nascer. Não vou citar nomes. Basta cada um olhar a programação de várias cidades do estado, e vamos ter a certeza do interesse dos senhores gestores para com a cultura. Com excessão a Recife, o restante se limita a um discurso teórico e uma prática totalmente diferente. Homenageados são os coquistas, os mestres, os sambadores... As coletivas para apresentarem as programações são recheadas de danças típicas... Os outdoors fora das fronteiras das cidades, e até do estado, evidenciam a cultura. Nosso nascedouro. Mas, na prática, o resultado é diferente. A arte é usada para convidar, mas não tem o espaço que tem quando "vende" os festejos do estado (Como falou o amigo Guitinho da Xambá, num bate papo no programa Cultura Viva).

Por fim, percebo que, assim como no carnaval, estamos batendo na mesma tecla de mostrar as lamentáveis ações dos "representantes do povo", que jogam nossa história num profundo poço esquecido. Eles mandam. E tentam matar nossa identidade. E quantos textos, gritos, manifestos forem necessários, temos de seguir fazendo. Junto com muito trabalho. É complicado. É difícil... Mas o silêncio é pior.

Aproveito e dou os parabéns à capital pernambucna, Recife, pela programação. Os festejos juninos em Pernambuco, que, assim como em outros estados, representam em sua grande parte, o interior, estão sendo muito bem representados na capital. Ironia do destino.




André Agostinho - Comunicação Cultural

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